“Não é Maria, sua mãe?
Tiago, José, Simão e Judas não são seus irmãos?”
Por: Hirley Nelson de Souza
Eis o texto que, mal interpretado, é motivo de polêmica para aqueles que o querem entender no sentido literal, por aqueles que, no dizer de S. Paulo, "estão aprendendo sempre, mas nunca chegando ao conhecimento da verdade" (2 Tim 3,7).
Lemos na Bíblia que ”toda escritura divinamente inspirada, é útil para ensinar, para convencer, para corrigir e instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda obra boa”. (2 Tim 3, 16-17).
S. Paulo, porém, adverte que existem "homens maus e sedutores... errando e levando outros ao erro" (2 Tim 3,13).
Já S. Pedro nos ensina que, "nenhuma profecia é de peculiar interpretação” (2Ped 1,20).
Portanto, só podem dar correta interpretação às escrituras aqueles que possuem autoridade recebida do alto: "Quem vos ouve é a mim que ouve" (Lc 10,16),
Aliás, S. Pedro, referindo-se às cartas de S. Paulo, adverte que"...há algumas coisas difíceis de entender, as quais os indoutos e inconstantes, torcem para sua própria ruína, como o fazem também com as demais escrituras" (2 Ped 3,16).
"Interpretam todos ?" Perguntaria S. Paulo. (1Cor 12,30)
Portanto, se o evangelista coloca Tiago, José, Simão e Judas como irmãos de Jesus, é preciso que se observe o que ele realmente quis dizer, o verdadeiro sentido da palavra “irmãos” alí empregada.
Quem se obstina em seguir a interpretação literal de um texto terá de admitir que Jesus não é Filho de Deus e vem a ser irmão de S. José. Na verdade, um absurdo. Mas vejamos, à guisa de exemplo, se os dois textos que seguem, tomados literalmente, não levariam a esta incongruente conclusão: O Anjo aparece em sonho a S. José e lhe diz: “José, filho de Davi, não temas receber Maria...”(Mt 1,20). No evangelho de S. Marcos um cego implora sua cura a Jesus exclamando: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim...”(Mc 10,47).
José, filho de Davi; Jesus, filho de Davi. Literalmente chegaríamos à conclusão acima, Jesus e José seriam irmãos, filhos do mesmo pai, Davi, quando na verdade o substantivo “filho” está aí empregado no sentido de descendente.
Na Bíblia, Abraão diz a Lot: Não haja discórdia entre mim e ti, pois somos irmãos”(Gen 13,8). Literalmente, Abraão e Lot eram irmãos. Na verdade o parentesco entre eles era de tio e sobrinho (Gen 12,5).
Não existiam naquela época vocábulos que, a exemplo de hoje, exprimissem o grau exato de parentesco como cunhado, primo, primo em 2° grau, tio, sobrinho, etc. Usualmente a palavra “irmão” supria esta lacuna não obstante os Judeus terem plena consciência do grau de parentesco existente entre eles.
A Bíblia diz que as filhas de Eleazar casaram-se com os filhos de Cis, “seus irmãos” (1 Par 23, 21-22), No entanto, Eleazar e Cis eram irmãos verdadeiros, ambos filhos de Mooli, e suas filhas e filhos apenas primos entre si e não irmãos.
Davi diz a Jônatas: “Choro por ti, ó meu irmão Jônatas...(II Rs 1,26). Eram irmãos? Não! Davi era cunhado de Jônatas.
Os discípulos de Jesus eram chamados de irmãos: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai, esse é meu irmão e minha irmã” - (Mt 12,50) - “Vós sois todos irmãos”. (Mt 23,8).
S. Paulo escreve a Tito: “Não tive repouso em meu espírito, porque não achei o meu irmão Tito” (2 Cor 2,13). Eram irmãos? Não! Irmão aí tem o significado de correligionário.
Moisés ordenou a Misael e Elisafan que levassem “seus irmãos” Nadab e Abiú “para longe do Santuário” (Lev 10, 1a4). No entanto não eram irmãos e sim primos em 2° grau ou primos-segundos. Os primeiros, filho de Oziel, tio de Aarão e os outros, filhos do próprio Aarão.
Todos os escritores dos primórdios do cristianismo foram unânimes em afirmar que os “irmãos de Jesus” não eram filhos de Maria Santíssima nem de S. José e não devem ser considerados como irmãos verdadeiros de Jesus. Entre eles:
“Santo Inácio, mártir, escritor, discípulo dos apóstolos, bispo de Antioquia, que foi a sede do cristianismo primitivo, (falecido em 109); São Policarpo, (ano 68 a 156), escritor, bispo de Smirna, cidade da Turquia, discípulo de S. João Evangelista, em cuja casa vivia Maria Santíssima; Santo Irineu, escritor, doutor discípulo de S. Policarpo (faleceu Stº Irineu em 202); S. Justino, - mártir, escritor (falecido entre 163 a 167). São Jerônimo,escritor e maior doutor da Bíblia, documentou, em 380, que os escritores e discípulos dos apóstolos, citados acima, explicavam que os chamados “irmãos de Jesus”, não devem ser considerados como irmãos verdadeiros. “São Jerônimo acrescenta ainda: “E TODOS OS DEMAIS HOMENS SÁBIOS, DESDE O TEMPO DOS APÓSTOLOS DECLARAM O MESMO” (De Perpetua Virginitate Beatae Mariae, Patrologia Latina, Migne 23, 193 a 216)-Extraído de “A Bíblia do Povo” (Vol. 1) Editora Santuários-pag 171 e 172.
Quem foi este cidadão e qual a sua importância para esclarecimento do assunto que estamos tratando, ou seja os pseudo-irmãos de Jesus? Vamos chegar lá.
Era comum na época de Cristo a troca de nomes próprios, mormente para designar uma função ou cargo ou que determinadas pessoas fossem conhecidas por mais de um nome. Assim, Abrão passou a ser chamado de Abraão; Sarai ficou conhecida por Sara (Gen 17,5-15); Jacó tomou o nome de Israel (Gen 32,28); Gedeão é também chamado Gerobaal (Jz-8, 28-29); Simão passou a ser chamado de Pedro (Mt 10,2); Tomé era conhecido por Dídimo (Jo 21,2); Mateus também chamado de Levi (Lo 5,27); Saulo era chamado de Paulo (At 13,9) e, no nosso caso, Alfeu é também conhecido como Cléofas.
“Alfeu, conforme outros, é nome aramaico, que após mutações fonéticas, passou para o grego como Kléofas” (A Bíblia do Povo, Vol. Ed. Santuários)- Vide Mt.10,3) e LC 24,18).
Os evangelistas (Mt 10,3 e Lucas 6,15) ao relacionarem os apóstolos apontam S. Judas Tadeu como irmão de Tiago, que é filho de Alfeu, Na História eclesiástica de Eusébius da Cesaréia, falecido em 339, encontramos referência ao escritor Hegesipo, do séc II, onde este afirma que S. Judas Tadeu é filho de Cléofas; São Judas Tadeu é filho de Alfeu. Para os Evangelistas Mateus e Lucas, já que lhe fazem referência como irmão de Tiago, enquanto o historiador Hegesipo assegura ser ele filho de Cléofas. O que equivale a dizer que Alfeu e Cléofas são, de fato, uma única pessoa.
Em seu evangelho S. João indica as pessoas que se encontravam ao pé da cruz no Calvário:-”Junto à cruz de Jesus, porém, estavam de pé, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria Mulher de Cléofas, e Maria Madalena”. (Jo 19,25).
Maria, mulher de Cléofas, e irmã de Maria Santíssima, era a mãe de Tiago e José como atestam S. Mateus e S. Marcos (Mt 27,56 e Mc 15,40) quando nomeiam as personagens que se encontravam no Calvário, reunidas ao pé da cruz de Jesus, na mesma passagem evangélica relatada por S. João e acima transcrita (Jo 19,25). Como a reforçar que Maria, mãe de Tiago e José não era a Virgem Maria, mas sim sua irmã, também em S. Lucas, após a ressureição de Jesus, encontramos uma referências às santas mulheres. Relata S. Lucas (Lc 24,10) que entre as mulheres que foram ao sepulcro – estavam, entre outras, Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago...”. Porquê Marcos, Lucas e Mateus se referem a essa Maria como à mãe de Tiago? Se se tratasse da Santíssima Virgem certamente escreveriam: - “Maria, mãe de Jesus”. Isto é uma coisa óbvia. O quarto evangelista, S. João, mata declarando que essa Maria, mãe de Tiago e José é a mulher de Cléofas.
Logo, Maria Santíssima, Mãe de Jesus, não era a mesma Maria, mãe de Tiago e José.
Agora que conhecemos Alfeu ou Cléofas e Maria, sua mulher, compreenderemos com mais facilidade que Tiago, José, Simão e Judas, chamados de “irmãos de Jesus” eram, na realidade, filhos desse casal e, portanto, primos de Jesus, quer por parte da mãe, filhos que eram da irmã da Virgem Maria como de Cléofas que era irmão de São José.
Quem atesta esse importante fato do Parentesco entre S. José e Cléofas é o historiador Hegesipo, ano 180, que em seu livro “Memórias”, declara-os irmãos verdadeiros. Eusébio da Cesaréia, na sua História Eclesiástica, obra de incalculável valor, compreendendo dez livros contando a história desde o princípio da Igreja até ao ano 324, registra a declaração de Hegesipo contida no seu livro “Memórias”.
Assim, concluímos que:
Tiago e José – são filhos de uma certa Maria que esteve presente à crucificação de Jesus, como afirmam os evangelistas Mateus e Marcos (Mt 27,56 e Mc 15,40). S. João aponta essa Maria, ao pé da cruz, como esposa de Cléofas e irmã da Virgem Maria (Jo 19,25).
Tiago – que é um dos doze apóstolos, conhecido como Tiago Menor, é também filho de Alfeu ou Cléofas (Gal 1,19 e Mt 10,3)
Judas – é irmão de Tiago e também filho de Cléofas (Ep Judas 1) e (Lc 6,15-16).
Simão – é irmão de Judas, ambos filhos de Cléofas, conforme declara Hegesipo, séc II, também citado na História Eclesiástica de Eusébio da Cesaréia.
Tiago e José são irmãos de Judas e Simão – como declara S. Mateus (Mt 13,55).
Portanto, os irmãos Tiago, José, Simão e Judas são filhos de Cléofas e sua mulher Maria, que esteve no Calvário ao lado de sua irmã, Maria Santíssima, Mãe de Jesus. Os quatro irmãos são, como já foi dito, primos de Jesus.
O texto bíblico de que estamos tratando fala também em irmãs de Jesus; estas não são nomeadas. Tal como os “irmãos” deve tratar-se de primas, filhas da irmã da Virgem Maria e seu esposo Cléofas, ou então, algum outro grau de parentesco ou sentido em que se emprega a palavra “irmão”, como já foi comentado.
Ou será que os pseudo-hermeneutas habituados a dar aos textos bíblicos a significação que sua incompetência lhes dita, ou que venha a lhes convir, acham que Cléofas e sua mulher não podem ter tido filhas? - Pior ainda, devem censurar os evangelistas por não terem mencionado os nomes dessas distintas donzelas que descrevem como “irmãs” de Jesus.
Já vimos no início deste trabalho a amplitude que tem o vocábulo “irmão” com uma série de exemplos apresentados. Não bastassem tais exemplos, vamos deixar registrado mais um fato bíblico, desta feita relacionado à ressurreição de Jesus, quando Ele aparece a Madalena e diz:-”Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Maria Madalena entendeu perfeitamente o sentido da palavra “irmãos” e “foi referir aos discípulos: Vi o Senhor e Ele disse-me estas coisas (Jo 20,18).
A passagem bíblica que apresenta Jesus entregando sua Mãe a S. João para que dela cuidasse, é um acontecimento que só pode ser explicado pelo fato de Maria não ter outro filho, caso contrário, certamente a deixaria aos cuidados de “seu” ou “seus irmãos”, ou na ausência dele ou deles, encarregaria S. João de fazê-lo.
Dentre os pseudo-irmãos de Jesus, Tiago, Judas e Simão tinham condições de assistir a Virgem Maria se dela fossem filhos. Os primeiros eram apóstolos e Simão foi bispo de Jerusalém.
A lei mandava honrar os pais e isso implicava também em cuidar deles e prestar-lhes toda a ajuda necessária. Jesus, respondendo a uma pergunta dos escribas e fariseus, ressaltou a importância desse mandamento e, ninguém melhor do que Ele próprio, fiel cumprido da lei, para entregar sua Mãe a um irmão se o tivesse. No entanto, o evangelho é bem claro quando nos conta que a partir daquele instante Maria passou a viver na casa de João. (Jo 19,27).
Aliás, S. João teve por discípulo a S. Policarpo, um dos primeiros escritores a explicar que os chamados “irmãos de Jesus” não devem ser considerados como seus “irmãos verdadeiros”. A História da Igreja (Frei Dagoberto Romag -Vol. 1- pág 127) conta que S. Policarpo “conversou com muitos que tinham conhecido, em vida, a Jesus Cristo” tendo, portanto, conhecimento perfeito do assunto.
Alguns objetam que Jesus era filho primogênito e, portanto, o primeiro filho a nascer.
A lei obrigava os judeus a consagrar o primogênito a Deus nos seus primeiros dias de vida. Isso não implica, necessariamente, no nascimento de outros filhos posteriores.
S. Jerônimo, ano 380, dizia: -”Primogênito é, não somente aquele depois do qual vem outro filho, mas também aquele antes do qual não houve nenhum”.
“Em 1922 encontrou-se em Tell el Yeduieh, no Egito, uma sepultura, cuja inscrição diz ser a sepultura de Arisinoé, mãe que morreu ao dar à luz a seu filho primogênito. Assim, embora fosse filho único, dizia-se primogênito. A sepultura data pouco antes do nascimento de Cristo”. (A Bíblia do Povo -Vol I- Ed. Santuário- pág175).
S. João Batista era filho único de Zacarias e Isabel e como primogênito foi consagrado a Deus após o seu nascimento.
Como vemos, o fato de Jesus ser o primogênito não significa, absolutamente, que tivesse tido irmãos. Repetindo S. Jerônimo, o que se pode dizer é que, sendo primogênito, não houve qualquer outro filho antes dele.
É importante, também, que se leve em consideração o fato de que Jesus era filho único aos 12 anos de idade.
Outro argumento que os adversários e detratores da Santíssima Virgem Maria utilizam-se para alegar que Jesus teve irmãos, é a seguinte passagem bíblica:-”José não conheceu Maria até que ela desse à luz o seu filho primogênito” (Mt 1,25).
O argumento é tão pueril que pode ser refutado com outra passagem bíblica. Micol, esposa do rei Davi, foi punida por Deus por zombar do seu marido. E a Bíblia diz que: “por essa razão, Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia da sua morte” (II Rs 6,23). Concluirão, então, que Micol teve filhos depois de morta?
S. José tinha plena consciência de que o que se formara no ventre daquela que é cheia de graça era obra de Deus Altíssimo. Ele jamais violaria aquele sacrário que, por nove meses, abrigou o “Pão da vida que desceu do céu”.
O presente trabalho foi elaborado tendo como base os seguintes livros:
A BÍBLIA DO POVO – Vol. I, Ed. Santuário, Centro Bíblico Católico. Traduzida e comentada por Pe. Frei Paulo Avelino de Assis, Doutor em Teologia Bíblica – Comentários pp. 168-176.
NOVO TESTAMENTO – Ed. Vozes, Petrópolis. Tradução: Frei João José Pedreira de Castro; 4ª edição, 1950
PORQUE NÓS CATÓLICOS VENERAMOS MARIA – Frei Guilherme Baraúna, Ofm. Editora Vozes, Petrópolis; 3ª edição, 1956.
Digitação e redação: Rev. Nelson Magalhães da Costa Filho, Abril – 2007.
A+M+G+D
Eis o texto que, mal interpretado, é motivo de polêmica para aqueles que o querem entender no sentido literal, por aqueles que, no dizer de S. Paulo, "estão aprendendo sempre, mas nunca chegando ao conhecimento da verdade" (2 Tim 3,7).
Lemos na Bíblia que ”toda escritura divinamente inspirada, é útil para ensinar, para convencer, para corrigir e instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda obra boa”. (2 Tim 3, 16-17).
S. Paulo, porém, adverte que existem "homens maus e sedutores... errando e levando outros ao erro" (2 Tim 3,13).
Já S. Pedro nos ensina que, "nenhuma profecia é de peculiar interpretação” (2Ped 1,20).
Portanto, só podem dar correta interpretação às escrituras aqueles que possuem autoridade recebida do alto: "Quem vos ouve é a mim que ouve" (Lc 10,16),
Aliás, S. Pedro, referindo-se às cartas de S. Paulo, adverte que"...há algumas coisas difíceis de entender, as quais os indoutos e inconstantes, torcem para sua própria ruína, como o fazem também com as demais escrituras" (2 Ped 3,16).
"Interpretam todos ?" Perguntaria S. Paulo. (1Cor 12,30)
Portanto, se o evangelista coloca Tiago, José, Simão e Judas como irmãos de Jesus, é preciso que se observe o que ele realmente quis dizer, o verdadeiro sentido da palavra “irmãos” alí empregada.
Quem se obstina em seguir a interpretação literal de um texto terá de admitir que Jesus não é Filho de Deus e vem a ser irmão de S. José. Na verdade, um absurdo. Mas vejamos, à guisa de exemplo, se os dois textos que seguem, tomados literalmente, não levariam a esta incongruente conclusão: O Anjo aparece em sonho a S. José e lhe diz: “José, filho de Davi, não temas receber Maria...”(Mt 1,20). No evangelho de S. Marcos um cego implora sua cura a Jesus exclamando: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim...”(Mc 10,47).
José, filho de Davi; Jesus, filho de Davi. Literalmente chegaríamos à conclusão acima, Jesus e José seriam irmãos, filhos do mesmo pai, Davi, quando na verdade o substantivo “filho” está aí empregado no sentido de descendente.
Na Bíblia, Abraão diz a Lot: Não haja discórdia entre mim e ti, pois somos irmãos”(Gen 13,8). Literalmente, Abraão e Lot eram irmãos. Na verdade o parentesco entre eles era de tio e sobrinho (Gen 12,5).
Não existiam naquela época vocábulos que, a exemplo de hoje, exprimissem o grau exato de parentesco como cunhado, primo, primo em 2° grau, tio, sobrinho, etc. Usualmente a palavra “irmão” supria esta lacuna não obstante os Judeus terem plena consciência do grau de parentesco existente entre eles.
A Bíblia diz que as filhas de Eleazar casaram-se com os filhos de Cis, “seus irmãos” (1 Par 23, 21-22), No entanto, Eleazar e Cis eram irmãos verdadeiros, ambos filhos de Mooli, e suas filhas e filhos apenas primos entre si e não irmãos.
Davi diz a Jônatas: “Choro por ti, ó meu irmão Jônatas...(II Rs 1,26). Eram irmãos? Não! Davi era cunhado de Jônatas.
Os discípulos de Jesus eram chamados de irmãos: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai, esse é meu irmão e minha irmã” - (Mt 12,50) - “Vós sois todos irmãos”. (Mt 23,8).
S. Paulo escreve a Tito: “Não tive repouso em meu espírito, porque não achei o meu irmão Tito” (2 Cor 2,13). Eram irmãos? Não! Irmão aí tem o significado de correligionário.
Moisés ordenou a Misael e Elisafan que levassem “seus irmãos” Nadab e Abiú “para longe do Santuário” (Lev 10, 1a4). No entanto não eram irmãos e sim primos em 2° grau ou primos-segundos. Os primeiros, filho de Oziel, tio de Aarão e os outros, filhos do próprio Aarão.
Todos os escritores dos primórdios do cristianismo foram unânimes em afirmar que os “irmãos de Jesus” não eram filhos de Maria Santíssima nem de S. José e não devem ser considerados como irmãos verdadeiros de Jesus. Entre eles:
“Santo Inácio, mártir, escritor, discípulo dos apóstolos, bispo de Antioquia, que foi a sede do cristianismo primitivo, (falecido em 109); São Policarpo, (ano 68 a 156), escritor, bispo de Smirna, cidade da Turquia, discípulo de S. João Evangelista, em cuja casa vivia Maria Santíssima; Santo Irineu, escritor, doutor discípulo de S. Policarpo (faleceu Stº Irineu em 202); S. Justino, - mártir, escritor (falecido entre 163 a 167). São Jerônimo,escritor e maior doutor da Bíblia, documentou, em 380, que os escritores e discípulos dos apóstolos, citados acima, explicavam que os chamados “irmãos de Jesus”, não devem ser considerados como irmãos verdadeiros. “São Jerônimo acrescenta ainda: “E TODOS OS DEMAIS HOMENS SÁBIOS, DESDE O TEMPO DOS APÓSTOLOS DECLARAM O MESMO” (De Perpetua Virginitate Beatae Mariae, Patrologia Latina, Migne 23, 193 a 216)-Extraído de “A Bíblia do Povo” (Vol. 1) Editora Santuários-pag 171 e 172.
Quem foi este cidadão e qual a sua importância para esclarecimento do assunto que estamos tratando, ou seja os pseudo-irmãos de Jesus? Vamos chegar lá.
Era comum na época de Cristo a troca de nomes próprios, mormente para designar uma função ou cargo ou que determinadas pessoas fossem conhecidas por mais de um nome. Assim, Abrão passou a ser chamado de Abraão; Sarai ficou conhecida por Sara (Gen 17,5-15); Jacó tomou o nome de Israel (Gen 32,28); Gedeão é também chamado Gerobaal (Jz-8, 28-29); Simão passou a ser chamado de Pedro (Mt 10,2); Tomé era conhecido por Dídimo (Jo 21,2); Mateus também chamado de Levi (Lo 5,27); Saulo era chamado de Paulo (At 13,9) e, no nosso caso, Alfeu é também conhecido como Cléofas.
“Alfeu, conforme outros, é nome aramaico, que após mutações fonéticas, passou para o grego como Kléofas” (A Bíblia do Povo, Vol. Ed. Santuários)- Vide Mt.10,3) e LC 24,18).
Os evangelistas (Mt 10,3 e Lucas 6,15) ao relacionarem os apóstolos apontam S. Judas Tadeu como irmão de Tiago, que é filho de Alfeu, Na História eclesiástica de Eusébius da Cesaréia, falecido em 339, encontramos referência ao escritor Hegesipo, do séc II, onde este afirma que S. Judas Tadeu é filho de Cléofas; São Judas Tadeu é filho de Alfeu. Para os Evangelistas Mateus e Lucas, já que lhe fazem referência como irmão de Tiago, enquanto o historiador Hegesipo assegura ser ele filho de Cléofas. O que equivale a dizer que Alfeu e Cléofas são, de fato, uma única pessoa.
Em seu evangelho S. João indica as pessoas que se encontravam ao pé da cruz no Calvário:-”Junto à cruz de Jesus, porém, estavam de pé, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria Mulher de Cléofas, e Maria Madalena”. (Jo 19,25).
Maria, mulher de Cléofas, e irmã de Maria Santíssima, era a mãe de Tiago e José como atestam S. Mateus e S. Marcos (Mt 27,56 e Mc 15,40) quando nomeiam as personagens que se encontravam no Calvário, reunidas ao pé da cruz de Jesus, na mesma passagem evangélica relatada por S. João e acima transcrita (Jo 19,25). Como a reforçar que Maria, mãe de Tiago e José não era a Virgem Maria, mas sim sua irmã, também em S. Lucas, após a ressureição de Jesus, encontramos uma referências às santas mulheres. Relata S. Lucas (Lc 24,10) que entre as mulheres que foram ao sepulcro – estavam, entre outras, Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago...”. Porquê Marcos, Lucas e Mateus se referem a essa Maria como à mãe de Tiago? Se se tratasse da Santíssima Virgem certamente escreveriam: - “Maria, mãe de Jesus”. Isto é uma coisa óbvia. O quarto evangelista, S. João, mata declarando que essa Maria, mãe de Tiago e José é a mulher de Cléofas.
Logo, Maria Santíssima, Mãe de Jesus, não era a mesma Maria, mãe de Tiago e José.
Agora que conhecemos Alfeu ou Cléofas e Maria, sua mulher, compreenderemos com mais facilidade que Tiago, José, Simão e Judas, chamados de “irmãos de Jesus” eram, na realidade, filhos desse casal e, portanto, primos de Jesus, quer por parte da mãe, filhos que eram da irmã da Virgem Maria como de Cléofas que era irmão de São José.
Quem atesta esse importante fato do Parentesco entre S. José e Cléofas é o historiador Hegesipo, ano 180, que em seu livro “Memórias”, declara-os irmãos verdadeiros. Eusébio da Cesaréia, na sua História Eclesiástica, obra de incalculável valor, compreendendo dez livros contando a história desde o princípio da Igreja até ao ano 324, registra a declaração de Hegesipo contida no seu livro “Memórias”.
Assim, concluímos que:
Tiago e José – são filhos de uma certa Maria que esteve presente à crucificação de Jesus, como afirmam os evangelistas Mateus e Marcos (Mt 27,56 e Mc 15,40). S. João aponta essa Maria, ao pé da cruz, como esposa de Cléofas e irmã da Virgem Maria (Jo 19,25).
Tiago – que é um dos doze apóstolos, conhecido como Tiago Menor, é também filho de Alfeu ou Cléofas (Gal 1,19 e Mt 10,3)
Judas – é irmão de Tiago e também filho de Cléofas (Ep Judas 1) e (Lc 6,15-16).
Simão – é irmão de Judas, ambos filhos de Cléofas, conforme declara Hegesipo, séc II, também citado na História Eclesiástica de Eusébio da Cesaréia.
Tiago e José são irmãos de Judas e Simão – como declara S. Mateus (Mt 13,55).
Portanto, os irmãos Tiago, José, Simão e Judas são filhos de Cléofas e sua mulher Maria, que esteve no Calvário ao lado de sua irmã, Maria Santíssima, Mãe de Jesus. Os quatro irmãos são, como já foi dito, primos de Jesus.
O texto bíblico de que estamos tratando fala também em irmãs de Jesus; estas não são nomeadas. Tal como os “irmãos” deve tratar-se de primas, filhas da irmã da Virgem Maria e seu esposo Cléofas, ou então, algum outro grau de parentesco ou sentido em que se emprega a palavra “irmão”, como já foi comentado.
Ou será que os pseudo-hermeneutas habituados a dar aos textos bíblicos a significação que sua incompetência lhes dita, ou que venha a lhes convir, acham que Cléofas e sua mulher não podem ter tido filhas? - Pior ainda, devem censurar os evangelistas por não terem mencionado os nomes dessas distintas donzelas que descrevem como “irmãs” de Jesus.
Já vimos no início deste trabalho a amplitude que tem o vocábulo “irmão” com uma série de exemplos apresentados. Não bastassem tais exemplos, vamos deixar registrado mais um fato bíblico, desta feita relacionado à ressurreição de Jesus, quando Ele aparece a Madalena e diz:-”Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Maria Madalena entendeu perfeitamente o sentido da palavra “irmãos” e “foi referir aos discípulos: Vi o Senhor e Ele disse-me estas coisas (Jo 20,18).
A passagem bíblica que apresenta Jesus entregando sua Mãe a S. João para que dela cuidasse, é um acontecimento que só pode ser explicado pelo fato de Maria não ter outro filho, caso contrário, certamente a deixaria aos cuidados de “seu” ou “seus irmãos”, ou na ausência dele ou deles, encarregaria S. João de fazê-lo.
Dentre os pseudo-irmãos de Jesus, Tiago, Judas e Simão tinham condições de assistir a Virgem Maria se dela fossem filhos. Os primeiros eram apóstolos e Simão foi bispo de Jerusalém.
A lei mandava honrar os pais e isso implicava também em cuidar deles e prestar-lhes toda a ajuda necessária. Jesus, respondendo a uma pergunta dos escribas e fariseus, ressaltou a importância desse mandamento e, ninguém melhor do que Ele próprio, fiel cumprido da lei, para entregar sua Mãe a um irmão se o tivesse. No entanto, o evangelho é bem claro quando nos conta que a partir daquele instante Maria passou a viver na casa de João. (Jo 19,27).
Aliás, S. João teve por discípulo a S. Policarpo, um dos primeiros escritores a explicar que os chamados “irmãos de Jesus” não devem ser considerados como seus “irmãos verdadeiros”. A História da Igreja (Frei Dagoberto Romag -Vol. 1- pág 127) conta que S. Policarpo “conversou com muitos que tinham conhecido, em vida, a Jesus Cristo” tendo, portanto, conhecimento perfeito do assunto.
Alguns objetam que Jesus era filho primogênito e, portanto, o primeiro filho a nascer.
A lei obrigava os judeus a consagrar o primogênito a Deus nos seus primeiros dias de vida. Isso não implica, necessariamente, no nascimento de outros filhos posteriores.
S. Jerônimo, ano 380, dizia: -”Primogênito é, não somente aquele depois do qual vem outro filho, mas também aquele antes do qual não houve nenhum”.
“Em 1922 encontrou-se em Tell el Yeduieh, no Egito, uma sepultura, cuja inscrição diz ser a sepultura de Arisinoé, mãe que morreu ao dar à luz a seu filho primogênito. Assim, embora fosse filho único, dizia-se primogênito. A sepultura data pouco antes do nascimento de Cristo”. (A Bíblia do Povo -Vol I- Ed. Santuário- pág175).
S. João Batista era filho único de Zacarias e Isabel e como primogênito foi consagrado a Deus após o seu nascimento.
Como vemos, o fato de Jesus ser o primogênito não significa, absolutamente, que tivesse tido irmãos. Repetindo S. Jerônimo, o que se pode dizer é que, sendo primogênito, não houve qualquer outro filho antes dele.
É importante, também, que se leve em consideração o fato de que Jesus era filho único aos 12 anos de idade.
Outro argumento que os adversários e detratores da Santíssima Virgem Maria utilizam-se para alegar que Jesus teve irmãos, é a seguinte passagem bíblica:-”José não conheceu Maria até que ela desse à luz o seu filho primogênito” (Mt 1,25).
O argumento é tão pueril que pode ser refutado com outra passagem bíblica. Micol, esposa do rei Davi, foi punida por Deus por zombar do seu marido. E a Bíblia diz que: “por essa razão, Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia da sua morte” (II Rs 6,23). Concluirão, então, que Micol teve filhos depois de morta?
S. José tinha plena consciência de que o que se formara no ventre daquela que é cheia de graça era obra de Deus Altíssimo. Ele jamais violaria aquele sacrário que, por nove meses, abrigou o “Pão da vida que desceu do céu”.
O presente trabalho foi elaborado tendo como base os seguintes livros:
A BÍBLIA DO POVO – Vol. I, Ed. Santuário, Centro Bíblico Católico. Traduzida e comentada por Pe. Frei Paulo Avelino de Assis, Doutor em Teologia Bíblica – Comentários pp. 168-176.
NOVO TESTAMENTO – Ed. Vozes, Petrópolis. Tradução: Frei João José Pedreira de Castro; 4ª edição, 1950
PORQUE NÓS CATÓLICOS VENERAMOS MARIA – Frei Guilherme Baraúna, Ofm. Editora Vozes, Petrópolis; 3ª edição, 1956.
Digitação e redação: Rev. Nelson Magalhães da Costa Filho, Abril – 2007.
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